- Para uma compreensão mais exata deste texto e do próximo, é interessante a leitura da parte I (clicar aqui). -
Grécia e Roma
Muito antes das conquistas de Alexandre, os
pensadores gregos foram ao Oriente em busca de conhecimento. Platão e
Aristóteles acreditavam firmemente na influência direta dos astros sobre os
homens. Pitágoras, iniciado na Babilônia, introduziu a astrologia na Grécia.
Sua obra Doutrina da harmonia das esferas, do século VI a.C., amplia o saber
astrológico e astronômico até então desenvolvido.
Por volta de 300 ou 400 a.C., os caldeus se
espalharam e levaram seu conhecimento consigo. Os gregos assimilaram com muita
facilidade a cultura da Mesopotâmia, e começaram, então, a desenvolver a
precisão dos cálculos e o rigor do sistema astrológico. Um exemplo disso foi
Hiparco (160-120 a.C.), que introduziu na Grécia a circunferência de 360 graus
e aperfeiçoou os cálculos relativos à precessão dos equinócios.
Para os gregos, o saber oculto vindo do Oriente era
encantador. E com a astrologia não foi diferente. Por volta de 280 a.C., um
padre babilônico vindo da Caldeia introduziu esse conhecimento na Grécia. Ele
fundou a primeira escola de astrologia na ilha de Cós e foi homenageado com uma
estátua com a língua de ouro, o que remetia ao valor das suas palavras.
Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o primeiro
cientista da Antiguidade a defender que a Terra movia-se em torno do Sol,
antecipando-se a Copérnico em mais de 1.500 anos. Sua obra conhecida nos dias
de hoje e escrita antes de se conceber a hipótese do heliocentrismo é Sobre as
dimensões e as distâncias do Sol e da Lua, na qual registrou o cálculo do
diâmetro da Lua em relação ao da Terra.
Claudio Ptolomeu (100-700 d.C.) astrônomo, astrólogo
e matemático grego, escreveu por volta de 140 d.C., na época da dominação
romana, o mais famoso tratado de astrologia, o Tetrabiblos. Ele codificou e
compilou todo o conhecimento que havia sido desenvolvido pelos povos da
Antiguidade. Desse modo, o Tetrabiblos foi o mais importante manual de
astrologia usado pelos astrólogos atuais. A astrologia clássica chegou até os
nossos dias com as técnicas já desenvolvidas nesses tempos, incluindo, além do
estudo da influência dos signos e dos quatro elementos, a teoria sobre as casas
astrológicas, os cálculos dos aspectos, dos trânsitos e das direções.
No
entanto, enquanto na astrologia do Egito e da Mesopotâmia as previsões eram
feitas por sacerdotes, na Grécia houve uma laicização dessa prática, pois os
astrólogos gregos já não eram mais padres.
Graças à dominação romana, a astrologia grega
adquiriu sua máxima extensão. Embora sob o domínio de Roma, a cultura da bacia
do Mediterrâneo ainda era helenista e, durante esse período, os escravos gregos
disseminaram sua cultura e seu conhecimento entre os latinos.
Júlio César, Crasso e Pompeu acreditaram firmemente
nas predições astrológicas. A bem da verdade, houve uma vulgarização desse
saber, e os estudiosos começaram a pratica a astrologia para o desempenhar
papeis políticos e se tornarem conselheiros privados de soberanos e seus
próximos.
Na época de César, Marcus Manilius escreveu o
primeiro tratado de astrologia, por volta de 6 a 14 d.C., chamado Astronômicas,
no qual eram descritos e estudados com enorme riqueza os signos, as casas
astrológicas e as casas derivadas.
Outro autor de grande quilate foi Dorotheus
de Sidon (25-75 d.C.), que escreveu o Pentateuco, um longo poema astrológico
dividido em cinco livros. Vettius Valens (120-175 d.C.) compôs a Antologia,
primeira coleção de horóscopos de pessoas conhecidas, entre 15 e 175 d.C. Ele não
teve tanto prestígio intelectual quando Ptolomeu, mas deixou como legado um
grande material de pesquisa.
Além das obras de Ptolomeu, Manilius, Dorotheus e Valens, um conjunto de textos do período helênico ficou bastante conhecido e exerceu grande influência da astrologia feita na Grécia. Escrito em primeira pessoa pelo deus mitológico Thot, ou Hermes Trimegisto (o Três vezes Grande), e sob a forma de diálogos, o Corpus Hermeticum é o resultado de um complexo sincretismo religioso, que contribuiu, sem sobre de dúvida, para o enriquecimento da astrologia grega. Esses textos reuniam inúmeras obras de filosofia, alquimia, astrologia, magia e medicina.
Da Roma imperial e republicana não existem muitos registros astrológicos, até porque os intelectuais eram críticos e céticos em relação aos conhecimentos astrológicos. No entanto, Ptolomeu, era dessa época. Para ele, a astrologia servia para orientar a vida das pessoas, podendo prepara-las melhor para os perigos. Além disso, foi ele quem expôs de forma organizada a teoria geocêntrica na qual se definia a Terra como o centro do Universo, teoria abalada apenas no século XIV, com o heliocentrismo proposto por Copérnico.
Apesar do ceticismo dos filósofos e intelectuais da época, a astrologia em Roma e suas províncias teve um prestígio incontestável até o triunfo do cristianismo. Em 323 d.C., o cristianismo se tornou a religião oficial do Estado, com um poder cada vez maior, e os seus dias glorioso passaram a ter o tempo contado quando, em 357 d.C., pela pressão do estado e da Igreja, Constantino passou a considerar a magia e a astrologia práticas divinatórias pagãs, e, portanto, crimes passíveis de pena de morte.
A igreja se posicionou contra o determinismo planetário, pois segundo essa teoria, o homem não tinha livre-arbítrio, sem o qual a intervenção misericordiosa de Deus não teria sentido algum.
Sendo assim, a Grécia deu à astrologia uma estrutura
intelectual e Roma lhe deu a dimensão política de poder e, igualmente, de
perigo. Afinal, as proibições não provinham de um ceticismo intelectual, mas do
medo quanto ao uso desse saber.
Astrologia árabe
O desenvolvimento da astrologia árabe teve uma vasta
extensão temporal e territorial. Ela progrediu entre 750 e 1550 d.C. pelo Médio
e Próximo oriente, pelo Norte da África, pela Índia Ocidental, pela Espanha,
pela Sicília e pelo Sul da França. É graças a essa expansão que o conhecimento
sobre alquimia e astrologia foi tão bem preservado. Afinal, eles compilaram e
traduziram muitos escritos antigos do grego para o árabe e, depois, do árabe
para o latim.
Os primeiros astrólogos árabes nutriram seu
conhecimento com fontes anteriores à predicação de Maomé. Alguns pesquisadores
consideram a astrologia árabe uma extensão da tradição astrológica grega, tendo
recebido influências também da astrologia hindu. O Alcorão (650-656 d.C.)
condena explicitamente, entre as formas de idolatria, a astrologia.
Um dos astrólogos de mais destaque no mundo árabe foi
Rhazes, que deixou um extenso comentário do livro Tetrabiblos de Ptolomeu. Outro
astrólogo de relevo foi Abû Ali Mohamed, conhecido como “segundo Ptolomeu” pela
vastidão e extensão de seus conhecimentos astronômicos e astrológicos.
Bagdá transformou-se num grande centro de astronomia
e um importante observatório foi construído na cidade, no qual trabalhavam
muitos astrólogos. Dentre eles, o famosos Albumasar, discípulo de Al-Kindî,
conhecido por introduzir o discurso e os conceitos helênicos no pensamento
islâmico. É de sua autoria a Introdução à astrologia, um tratado em que o estudo
das conjunções desempenha um papel de grande destaque.
Os árabes foram excelentes construtores de
instrumentos astronômicos (como o astrolábio) e se dedicaram exaustivamente ao
aperfeiçoamento dos cálculos que determinavam a posição dos astros no firmamento.
Ocidente Medieval
Foi na Espanha islâmica que a astrologia se
desenvolveu no Ocidente cristão. Entre 1135 e 1153, muitos tratados
astrológicos árabes foram traduzidos. No entanto, a atitude da Igreja Cristã
durante a idade média não era de afinidade com conceitos utilizados pela
astrologia. A igreja condenava o determinismo astrológico e no Concílio de
Laodiceia foi proibido o exercício da profissão de matemático (como eram
chamados os astrólogos naquela época). Depois desse primeiro concílio, outros
dois agravaram a situação. O Concílio de
Toledo e o Concílio de Braga decretaram que a fé na astrologia deveria ser
punida com a excomunhão.
No entanto, nem todos os astrólogos foram silenciados
pela Igreja. A estratéfia usada pelos sobreviventes aos decretos foi criar a
máxima “Os astros inclinam, não determinam”, de maneira a isentar o viés
determinista da astrologia, condenado pela Igreja Católica.
Nas obras de São Tomás de Aquino, é possível
encontrar trechos que mostram essa posição medieval clássica que admitia a
influência dos astros, sem considera-la
determinante ou fatal. Inclusive, em A
divina comédia, de Dante Alighiei, há referência ao livre-arbítrio numa
passagem sobre o purgatório.
Desse modo, à medida que a Idade Média avançava, a
astrologia também se expandia. Um fato que colaborava muito com a sua prática
também se expandia. Um fato que colaborava muito com a sua prática e o seu
desenvolvimento era a existência de poucos céticos.
Segundo Serge Hutin, “no
século XIII, corria na escola de Medicina de Bolonha (uma das mais afamadas da
Europa) o seguinte adágio: ‘Um doutorado sem astrologia é como um olho que não
pode ver.’”
Aguardem a Parte III, pessoal. Que a Grande Alva os abençoem.
Aguardem a Parte III, pessoal. Que a Grande Alva os abençoem.
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