terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um breve Passeio pela História da Astrologia – Da Mesopotâmia a América Central – Parte I

Esta série contará com três textos e tem como objetivo clarear em nossa mente sobre a história dessa tão curiosa fonte de saber: A astrologia. Espero que aproveitem este ótimo conteúdo. Vamos lá.

Sem sombra de dúvida, a astrologia é um saber milenar. Todavia, é muito difícil, se não impossível, datar com exatidão a sua origem. Não obstante, é curioso pensar que quase todos os animais mantêm os olhos presos ao chão, mas os humanos, diferentemente, dirigem o olhar para o lado oposto, contemplando o céu e o movimento dos astros. Desse modo, pode-se dizer que a astrologia teve início quando o homem olhou para o firmamento e estabeleceu as primeiras correlações entre os fenômenos celestes e os acontecimentos na Terra.
Um dado importante a ser mencionado é a estreita relação, até mesmo indistinção, durante milênios, entre a astrologia e a astronomia, já que ambas baseavam-se em conhecer o movimento dos astros com precisão. Martha Pires Ferreira cita no livro Metáfora dos astros, que “(...) existem registros que seu conhecimento se situa em época bem remota, mais de 26000 a.C.”, e que “nesta fase proto-histórica, pastores e agricultores já haviam constatado a importância da ordem celeste.”
Em seu livro Calendário, David Ewing Duncan relata que foram encontrados na região do vale do Dordogne, na França, pedaços de ossos de águia datados de circa 11000 a.C. e entalhadas com marcações que, para alguns pesquisadores, eram registros das fases da lua e seriam, provavelmente, os primeiros calendários. Esses teriam sido produto das minuciosas observações dos humanos dos ciclos planetários, fundamento da astronomia e da astrologia.
Nesses tempos remotos, o saber astrológico era produzido pela observação empírica e transmitido boca a boca. Verdade seja dita, todos os povos plasmaram os céus. No entanto, a Mesopotâmia, região entre os rios Tigres e Eufrates, foi o solo fértil no qual a astrologia se desenvolveu, mantendo-se viva até os dias de hoje.

Mesopotâmia
Os povos que habitaram a Mesopotâmia na antiguidade deixaram provas contundentes de que nessa terra, chamada de crescente fértil, a astrologia teve suas raízes. Segundo Serge Hutin, “não só documentos seguros atestam a existência muito desenvolvida da astrologia entre os caldeus, dois ou três milênios antes da Era Cristã, mas as descobertas mais recentes recuariam a sua prática a uma época nitidamente mais anterior ainda, a dos sumérios, que a teriam trazido da Ásia Central por volta do quinto milênio antes de Cristo.” Foram achadas na Mesopotâmia muitas tabelas planetárias gravadas em tijolos, assim como documentos escritos por sumérios, babilônios, caldeus e assírios. Esses povos formaram a matriz sobre a qual foi edificada a astrologia, posteriormente desenvolvida e compilada pelos gregos.
O que diferenciou os mesopotâmicos dos outros povos do Ocidente foi o fato de aqueles anotarem de forma sistemática os fenômenos celestes e terem feito correlações entre o movimento dos astros e os eventos terrestres. Tal prática se desenvolveu e foi aprimorada especialmente devido à forte instabilidade política da região. Com a presente perspectiva de perda de poder, os reis recorriam adivinhos observadores do rei para lhes informarem as previsões do que estava para acontecer. Na visão de Jim Tester, a causa principal para o desenvolvimento dos cálculos astronômicos nessa região foi a organização do tempo segundo calendários voltados para propósitos agrícolas e, especialmente, religiosos. Não obstante, essas finalidades não se afastavam daquelas se cunho político, porquanto, nesses povos, a arte divinatória da astrologia era praticada por sacerdotes que enviavam os relatórios ao rei. Por muito tempo a astrologia foi privilégio dos soberanos, mais tarde, também da aristocracia, e somente em cera de 2250 a.C., na Era Alexandrina, foi utilizada amplamente para todos os indivíduos.
Nas ruínas de Nínive, na biblioteca do rei assírio Assurbanipal (668-630 c. C.), arqueólogos encontraram tábuas de argila que reproduziam a cópia de uma coleção astrológica de data bem mais antiga, dos tempos do rei Sargon, o Antigo. Nessas tábuas revela-se uma astrologia totalmente voltada para os acontecimentos coletivos, afirmando o que foi dito anteriormente. Eis aqui uma passagem descrita numa dessas tábuas encontradas na biblioteca de Assurbanipal:
“O mês Addaru terá trinta dias. Na noite de 13 para 14, observei o céu com atenção, levantei-me sete vezes, mas não houve eclipse. Enviarei um relatório ao rei.”
Grandes templos foram erigidos na Mesopotâmia antiga para a observação e adoração dos astros, denominados zigurates. Os zigurates eram formados por sete andares de diferentes cores, representando os sete planetas conhecidos até aquele momento. Do alto de um ziguarte, os astrólogos observaram e anotaram com precisão os movimentos dos astros no firmamento. No período babilônico, por volta de 727 a.C., já se faziam registros de eclipses. No entanto, marcava-se o céu de acordo com q posição das estrelas, e não de acordo com as marcas fixas de um Zodíaco de 30 graus, sistema posteriormente usado pela astrologia. Os primeiros zodíacos provavelmente surgiram em torno de 2600 a.C.
Já na Antiguidade, além da divisão da eclíptica em 12 signos, os desenvolveram igualmente um sistema de divisão da esfera celeste em 12 partes, usando como referência a linha do horizonte e o meridiano do observador. Tais subdivisões são conhecidas e utilizadas até os dias atuais, com a denominação de casas astrológicas.
Por fim, foram os sumérios os inventores do sistema sexagesimal de horas e minutos, facilitando sobremaneira as operações matemáticas em relação à astronomia (diga-se de passagem, muito complicadas).

Egito
Se a babilônia foi vista como o berço da astrologia, esta prerrogativa deve ser partilhada igualmente com o Egito. Afinal, a astrologia foi desenvolvida simultaneamente nas duas regiões. As cartas celestes egípcias datam de aproximadamente 4200 a.C., e os horóscopos de 3000 a.C.
Um dos mais importantes testemunhos astrológicos egípcios é o Zodíaco circular esculpido no teto do Templo de Denderah, hoje exposto no Museu do Louvre. Tal zodíaco continha todos o saber dos sacerdotes referente à astrologia praticada na época. De forma semelhante, era perceptível o conhecimento muito preciso da astrologia estelar por parte dos construtores das grandes pirâmides, visto que elas estavam orientadas na direção de estrelas de grande importância nas marcações do espaço celestial. Além de servirem como túmulos, as pirâmides também eram observatórios astronômicos. A propósito, no Egito é comum encontrar sarcófagos adornados com representações dos signos do zodíaco.

Os egípcios criaram um complexo e aperfeiçoado calendário chamado Sotíaco, que dividia cada uma das 12 constelações zodiacais em 3 partes, designadas pela estrela mais brilhante. Desta maneira, estavam determinadas 36 divisões ou decanos, governadas individualmente por uma divindade. Além do mais, até hoje utilizamos, com poucas alterações, o calendários adotado por eles, com a divisão do ano em 13 meses e dos dias em 24 horas.
Acredita-se que os sacerdotes egípcios conheceram a precessão dos equinócios e elaboraram um catálogo já detalhado das estrelas visíveis, sabendo distingui-las dos planetas, chamados de astros, que ignoram o repouso.

A Dominação Persa
Em 539 a.C., o rei Ciro II da Pérsia dominou a Mesopotâmia, marcando o fim do império da Babilônia. Com a prática de registrar os fenômenos celestes e no contato com os astrólogos da Mesopotâmia, os persas introduziram a matemática nos cálculos astronômicos. Com a regularização dos calendários, ocorre, então, um grande avanço na astrologia e na astronomia. Ademais, são descobertos os períodos sinódico (diz-se das revoluções dos planetas tendo como referência o sol) e sideral (diz-se das revoluções dos planetas tendo como referência as estrelas fixas), de modo que os planetas ficam estabilizados em signos zodiacais e não mais em constelações.
A primeira carta astrológica conhecida da Babilônia data de provavelmente 410 a.C. Nela estão registradas informações astrológicas do nascimento de uma pessoa numa determinada data e os signos nos quais estavam posicionados a Lua e os planetas.

A Era Alexandrina
A partir da conquista da Caldeia por Alexandre, o Grande, tornou-se possível um intercâmbio cultural entre o pensamento helênico e a tradição intelectual dos povos do crescente fértil. Com o avanço das tropas de Alexandre, o grego se torna a língua dominante, marcando o início de uma propagação não só da astrologia, mas de todas as ciências ocultistas desenvolvidas nessa região, alcançando, inclusiva, a Índia. Os tratados de astrologia escritos em diversas outras línguas só chegaram até nós porque foram traduzidos para o grego e, deste, para as línguas modernas. Um outro aspecto referente a conquista de Alexandre é o fato de o pensamento dos helênicos se voltar para o entendimento porquê as coisas, e isto acrescenta à astrologia religiosa dos povos da Mesopotâmia e do Egito o cunho científico nascido na Grécia.
A carta astrológica mais antiga desse período data de 263 a.C., e os graus dos signos já eram mencionados. Uma das efemérides mais antigas data de 307 a.C., e elas foram fabricadas até 42 d.C. Os registros gregos dessa Era Helenista estão cheios de referências a um conhecimento ainda mais anterior da astrologia, referindo-se a ela como muito antiga.

A Índia, o Extremo Oriente, a América Central e os hebreus
Apesar de ter influências babilônicas e gregas, entre outras, as bases da astrologia indiana são totalmente distintas daquelas de astrologia clássica ocidental. Ela foi também influenciada pela astrologia chinesa, principalmente no que se refere à utilização do zodíaco lunar. Os astrólogos indianos praticavam a astrologia horária, fazendo cálculos para a hora de uma determinada pergunta com o intuito de obter melhor resposta e calculando mapas de eventos como casamentos, festas, etc.
Ainda existem dúvidas quanto às origens históricas da astrologia chinesa, se seria ou não mais antiga que a dos caldeus. No entanto, sejam quais forem suas origens primárias, a astrologia chinesa também foi muito própria e singular. Ela influenciou, além da Índia, a astrologia feita em outras regiões do Extremo Oriente, como Coreia, Japão e Ásia Central. A astrologia na América Central pré-colombiana também foi muito particular e minuciosamente desenvolvida como a dos chineses, apresentando, aliás, similaridades como, por exemplo, o emprego do simbolismo animal e pirâmides construídas para a observação do firmamento semelhantes aos ziguartes da Mesopotâmia. Mas talvez o mais importante seja a extrema complexidade dos seus calendários com a interferência dos ciclos da Lua, do Sol e de Vênus.
Por outro lado, não se pode duvidar que os sacerdotes de Israel também tinham conhecimento sobre os ciclos solares e lunares, fundamentos das previsões astrológicas. Afinal, Moisés marcou o Êxodo para a noite de Lua Cheia da primavera, sugerindo que ele conhecia o ciclo lunar.

Verdade seja dita, o desenvolvimento da astrologia é simultâneo na Índia, na China, na Grécia e em tantos outros lugares. Afinal, a história não se desenvolve linearmente.

Aguardem a Parte II, pessoal. Que a Grande Alva os abençoem.

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