segunda-feira, 13 de abril de 2015

A Transformação Alquímica através da Observação

Primeiramente é meu dever pedir, mais uma vez, a compreensão dos leitores para comigo, por quê devido a diversos fatores não estou publicando textos regularmente. De antemão, posso afirmar apenas que o blog só deixará de ser canal para a postagem de materiais se ocorrer algo muito significativo. Portanto, a regra é que exerçamos a paciência até a chegada de um novo conteúdo (rs).
Dito isto, é necessário relatar que foi bastante complicado costurar todo o texto com o fio de Ariadne. Mas tenho certeza de que fiz o que pude e espero que o assunto se firme na mente de todos de forma concisa e que muitos possam se beneficiar com as vivências.
Vamos ao tema.

Há algumas semanas li quaisquer livros que me levaram à analisar certos comportamentos que eu praticava; tendo-os detectado, negligenciei totalmente os ditos livros e suas outras questões. Algum tempo depois alguns pensamentos começaram a surgir como o marchar de uma tartaruga em minha mente.
Nesta meditação relembrei (ou notei) a importância da observação para o buscador espiritual e resolvi que deveria tentar aprofundar-me nisto escrevendo.


É interessante como o nosso inconsciente tem meios tão conscientes (externos, da realidade habitual, física) para nos fazer ruminar sobre um objeto. A observação reflexiva acontece quando nós meditamos sobre aquilo que estamos vendo e deixamos que nossa mente se utilize da percepção para significar tal cena e relacioná-la à um paradigma ou até mesmo para solucionar um conflito psicológico. Acredito que muitas pessoas já notaram-se pensando em algo que as incomodava por bastante tempo e, vendo uma cena do cotidiano, ocorre uma tomada de consciência sobre o objeto e aquela nova visão, obtida do fato comum, torna banal o conflito.
David Kolb é autor americano, um teórico de educação e uma das suas teorias  consagradas tem muito a ver com o assunto proposto e cabe ser citada. Ele afirma que o processo de aprendizagem é cíclico e passa por diversas etapas que vai desde o envolver-se (que seria a experiência concreta), o observar (ou a observação reflexiva citada acima), a formulação de ideias e teorias (a conceptualização abstrata com base na reflexão feita) até a tomada de decisões (que seria a experimentação ativa). Neste modelo (como no de outros vários autores como Piaget) podemos notar que a interação do homem + ambiente resulta em uma resposta cognitiva de ação.

Mas o que o estudante de ocultismo e magia tem a ver com esta noção?

Trazendo este conteúdo para o âmbito mágicko podemos perceber que, já que a percepção da realidade cotidiana pode e influencia nossas ações e conflitos mais corriqueiros, por quê a mesma não poderia servir também como um aparato à busca do entendimento oculto?
Não quero dizer que já não sirva, tendo em vista que já foi dito que as tais tomadas de consciência ocorrem ordinariamente. A razão aqui é justamente trazer a atenção do leitor à esta aptidão.

Uma prática budista interessante a ser aqui citada é a Vipassanā, ou observação vigilante, e, segundo Segrillo (2014, pág. 1/1) “a palavra Vipassanā significa literalmente “ver com clareza”. Cultivar nossa capacidade de ver claramente é a fundação para aprender como estar presente para as coisas como são, ao surgirem.
É aprender a ver sem os filtros da parcialidade, do julgamento, da projeção ou das reações emocionais. Igualmente implica o desenvolver da confiança e força interna que permitem que estejamos presentes para as coisas como são em vez de como as desejamos que fossem. A prática da vigilância não envolve tentar mudar quem somos, mas sim uma prática de ver com clareza quem somos, de ver o que acontece ao acontecer, sem interferência. Nesse processo, mesmo sem tentar, podemos ser transformados.
A vigilância requer uma característica importante da consciência: a consciência por si só não julga, não resiste, nem se agarra a qualquer coisa. Concentrando-nos em simplesmente estarmos atentos, aprendemos a nos desembaraçar de nossas reações habituais e começar a ter um relacionamento mais amigável e compassivo com nossa experiência, com nós mesmos e com os outros."


A observação da natureza sempre foi fonte de entendimento, isto por quê nós possuímos uma capacidade da atribuição (percepção) de significados externos (fenômenos) às nossas questões internas (pensamento). Portanto não há nada místico em comparar o voo de uma ave à liberdade, pois é apenas uma significação mental dada devido a uma necessidade atual do sujeito. Os sábios hindus, os xamãs, e mais outras castas de homens considerados sapientes tornam-se muitas vezes eremitas, vagantes solitários da natureza que buscam, através da observação reflexiva, o entendimento do mundo e dos fenômenos recorrentes entre as pessoas. Não sei se é devido citar, mas o jovem Sidarta Gautama é um exemplo de homem que conquistou muita sabedoria através da observação e seus ensinamentos perduram até hoje. 
No livro La Pratique de la Concentracion (DESHIMARU, 1985) o autor fala que os pensamentos se elevam do subconsciente e afloram na consciência, a mente mergulha em um estado de dispersão e agitação, que a prática da observação é então requerida, visando anular as perturbações engendradas na consciência.

E como tratada aqui a palavra Magia tem um significado de mudança interior, que acredito ser a busca da maioria dos estudantes sérios, o texto nos fala claramente da relação transformativa que podemos construir entre o mundo externo e as impressões internas. Portanto, através da leitura do trabalho, podemos inferir que o sistema de observação reflexiva, vigilante ou meditativa serve e muito para a solução consciente e cognitiva de conflitos íntimos (conflitos estes que podem ir desde a escolha de uma ação até a dificuldade obtida na compreensão de qualquer ensinamento mágicko) que muitas vezes surgem de nosso inconsciente como paradoxos incompreensíveis.

A observação consciente nos leva à uma interpretação que exige muito mais de nosso esforço mental, desta forma nos desenvolvemos mais e conseguimos, consequentemente, atribuir significados à acontecimentos externos, pois estes se relacionam com situações psicológicas, adquirindo a sabedoria para a resolução de conflitos  aonde o tolo vê algo banal. Lembremos sempre que o magista deve ser sempre um Mago e não apenas um homem que pratica Magia nas horas vagas. Transformemos sabiamente o chumbo em Ouro.
Igor Pietro.
Natal, 10/04/2015. 
Referências:

KOLB, D. Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development. Prentice Hall; 1 edition (October 11, 1983).
Portal SOBRE BUDISMO. A Prática da Observação Vigilante. Disponível em: <http://sobrebudismo.com.br/a-pratica-da-observacao-vigilante/>. Acesso em 10/04/2015.
DESHIMARU, T. Zen et Vie Quotidienne - La Pratique de La Concentration. Editora: Albin Michel - Paris, 1985.
Portal ESTANTE VIRTUAL. Zen et Vie Quotidienne - La Pratique de La Concentration. Disponível em: <http://www.estantevirtual.com.br/psicologo59/Taisen-Deshimaru-Zen-et-Vie-Quotidienne-La-Pratique-de-La-Concentration-17259707>. Acesso em 10/04/2015.
Portal NOSSA CASA. Shunya - Condições da concentração e da observação. Disponível em: <http://www.nossacasa.net/SHUNYA/default.asp?menu=926>. Acesso em 10/04/2015.



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