quinta-feira, 18 de junho de 2015

Sobre Rituais de Bruxaria Medieval - Parte II (Final)


Parte I disponível AQUI
Retomemos um momento à questão dos rituais. Não resta quase dúvida quanto à antiguidade de grande parte deles. Eles podem ser encontrados no Grimoire e em Tritêmio; pesquisando as páginas de Virgílio e Hesíodo, parece-nos encontrar as origens das mesmas fórmulas. Examinando O livro dos Mortos, nos deparamos novamente com eles no antigo Egito. Nas confissões de Isabel Goudie e de outras bruxas do seu círculo, aparecem formas modificadas e mutiladas dessas mesmas fórmulas, ainda reconhecíveis; o mesmo acontece com o círculo de Kinross e com o de North Berwick, e com muitos outros. 

E ainda hoje, entre os ciganos, muitas das antigas fórmulas são usadas, se tivermos a sorte de os encontrar com disposição para falar sobre o assunto, o que é muito raro. Charles Godfrey Leland conseguiu algumas e as preservou. Mas o próprio fato de estarem tão modificadas indica um ponto notável, isto é, que a precisão da cerimônia não é essencial, nem tampouco a compreensão dela. Há certas coisas que eles fazem. 
Tomam imagens de cera, fazem nós com um fio preto, molham um trapo e batem nele, ou deixam-no secar; recitam também certas palavras que, em muitos casos, tornaram-se mera algaravia sem significado (mas sempre, é bom lembrar, com certa rima e ritmo). 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sobre Rituais de Bruxaria Medieval - Parte I

[Texto extraído do livro O Feiticeiro e seu Aprendiz - Escritos herméticos desconhecidos. Escritos de Samuel Liddel MacGregor Mathers, John William Brodie-Innes. Organização e introdução de R. A. Gilbert. Título original do texto: Rituais de bruxaria]

Ao estudante da bruxaria medieval apresenta-se continuamente a questão: o que faziam, precisamente, as bruxas? O que usavam para produzir os efeitos atribuídos às suas conjurações? Além disso, qual era o seu modo de ver o mundo? Descontando os charlatães e os impostores, dos quais acredito que a Idade Média poderia apresentar safra tão abundante quanto a dos tempos modernos, o que pensava o genuíno bruxo, a bruxa, ou aqueles que se consideravam tais, sobre si mesmos e a respeito de sua arte e poderes? Quais eram, enfim, as suas experiências?

Os relatos de suas vítimas são apresentados nos julgamentos com pormenores suficientemente amplos. Os rituais, em grande parte, podem ser reconstituídos. Alguns são fartamente expostos no Grade Grimoire e registrados por Tritêmio e outros. As confissões de bruxas conhecidas, notadamente as de Isabel Goudie, que são talvez o mais fértil depósito de fórmulas medievais, provam que os rituais mais antigos ainda eram praticados no século XVII. Mas as adulterações e omissões indicam terem eles sido transmitidos oralmente e repetidos, de cor, com escassa compreensão de seu significado. Antes, podem, que possamos entender a bruxa como pessoa viva e palpitante, devemos saber, não só o que ela dizia e fazia, mas o que ela pensava disso.