Enfim, o objetivo do texto é
explanar sobre o significado deste lendário animal na mais ampla visão que pude
buscar. Espero que o assunto fixe-se em suas mentes e que muitos possam
beneficiar-se com os dados. Vamos lá!
Comecemos nossa viagem pela
cultura celta, onde Blodeuwedd (nome composto a partir do Galês médio
"blodeu", 'flores' + "gwedd" 'face, aspecto, aparência':
"face florida") é a divindade da mitologia gaulesa que retrata o
poder da terra e sua história pode ser encontrada no Mabinogion em Math, filho
de Mathonwy, que diz que ela foi feita a partir de nove tipos de flores
silvestres, por Math e Gwydion, para ser a esposa de Lleu (filho de Arianhod).
Blodeuwedd é prometida ao
casamento, mas se apaixona por outro rapaz. Com este a divindade planeja matar
o seu futuro marido colocando-o em uma situação bastante amedrontadora. Em
certo momento, os amantes pretendem jogar uma lança fatal em direção do noivo, então
este transforma-se em águia e foge. Após saber do ocorrido, o feiticeiro Gwydion,
a transforma em coruja como punição.
Segundo CYMRAES, “In truth, Her supposed
treachery creates the very conditions to enable Llew to experience the ritual
death and rebirth commonly required of the Druidic priesthood, thus ensuring
his kingship.[…] Owl, the totemic representation of Blodeuwedd, signifies the
complete transformation of the initiate as represented by Llew’s virtual death
and subsequent healing. She is signified by the Empress card of the Tarot. She
is a Goddess of emotions, representing the matrix that reforms transpersonal
and universal energies into well-defined life force. She is also the Maiden
Goddess of initiation ceremonies and is known as the Ninefold Goddess of the
Western Isles of Paradise. Flowers, the wisdom of innocence, Lunar Mysteries
and initiation are Her provinces.”
Vemos assim, a coruja sendo
relacionada à iniciação e ao ciclo de vida e morte. Esta divindade também ficou
conhecida como responsável pela noite e patrona das corujas, em alguns textos
também sendo descrita como a representação da Lua escura.
na maioria das vezes com uma coruja em seu ombro ou em seu braço direito.
Relacionada à Filosofia, cita
CONCEIÇÃO (2014), “O filósofo alemão Friedrich Hegel em sua obra Filosofia do
Direito ilustra muito bem a harmoniosa relação entre a coruja e a filosofia.
Escreve ele: “A coruja de Minerva alça seu vôo somente com o início do
crepúsculo”. O papel da filosofia é justamente elucidar o que não é claro ao
censo comum, é alertar acerca da vida. O crepúsculo é o linear do dia pra
coruja, enquanto cessamos nossas obras e nos recolhemos em nossos lares, a
coruja “alça seu vôo” a trabalho. É a noite que a fascina, por isso seu nome em
latim: Noctua, “ave da noite”. Não é a beleza o seu destaque, mas é a
capacidade de ver o que aves diurnas não conseguem ver. Seu pescoço gira 360º,
dando-lhe uma visão completa capacitando-a a ver o todo. É também uma ave de
rapina, rápida na escolha, e que por ver a presa e não ser vista, sempre tem
sucesso na caça, apanhando os despreparados e desprovidos que se arriscam na
noite escura.”
Tais características são caras
aos filósofos, ver o que ninguém mais consegue, enxergar além do habitual, a
capacidade de articular bem seus argumentos com uma visão geral e conduzi-los
com maestria.
Na Roma Antiga vários textos
afirmam que a Coruja era vista como agouro, ou melhor, o som produzido pela
mesma era visto como presságio de mortes. Dizem que as mortes de Júlio César,
Augusto, Aurélio e Agripa, foram anunciadas por uma coruja. Os romanos chamavam
a coruja de estriges, que significa bruxa - daí surgiu o nome que abrange essas
aves: strigiformes.
Não achei muitas fontes para
explicar esta superstição sobre o “rasgo agourento” da coruja. Talvez seja uma
analogia, tendo em vista que alguns interpretam como um lamento, talvez pela
crença desenvolvida através dos tempos que a relaciona à morte, mas há uma
lenda interessante sobre isto.
De acordo com NOLÊTO, “Conta-se
que tudo começou com uma jovem de trinta e cinco anos de idade, um pouco gorda
e de pele muito branca. A jovem se chamava Suindara, trabalhava como carpindeira
(mulheres com mais de trinta anos que eram pagas para chorarem em velórios e
cemitérios) e era filha de um temido feiticeiro chamado Eliel. A jovem Suindara
era muito inteligente e respeitada na sua comunidade, todos a conheciam como
"Coruja Branca". Suindara levava uma vida normal, exceto pelo fato de
ser carpindeira.
Os problemas da jovem iniciaram
quando ela começou a namorar as escondidas com um rapaz chamado Ricardo, que
era filho de uma condessa chamada Ruth. A condessa era conhecida por sua
rigidez e era muito preconceituosa. Se o romance de Suindara e Ricardo fosse
descoberto, jamais seria aceito pela condessa, mas Ruth acabou descobrindo e
arquitetou um plano malévolo para acabar com a relação dos dois.
A condessa mandou que sua
empregada Margarida entregasse um bilhete para a carpideira dizendo que
contrataria os seus serviços e para isto seria necessário que as duas se encontrarem
atrás de uma cripta azul, que ficava no local mais afastado e escuro do cemitério.
Assim que Suindara chegou no loca
combinado foi assassinada por um empregado de Ruth. Todos lamentaram muito
quando ficaram sabendo da morte da jovem, a enterraram em um luxuoso mausoléu e
para homenageá-la esculpiram uma enorme coruja branca no meio da sua cripta.

A partir desse evento, a coruja
começou a soltar seus gritos aterrorizantes sempre que alguém estava perto de
morrer na aldeia. Até hoje as pessoas ainda temem quando a
"rasga-mortalha" sobrevoa suas casas soltando "gritos",
pois bom sinal não é.”
Como a boa e velha mitologia, é
incerta a data desta lenda, mas pode-se usá-la para explicar esta crendice
popular.
No Egito a coruja é comumente
associada à Deusa Neith que é a deusa da guerra e da caça, criadora de Deuses e
homens, divindade funerária e Deusa inventora na Mitologia egípcia. Seu culto
provém do período pré-dinástico, na qual tinha forma de escaravelho, depois foi
deusa da guerra, da caça e deusa inventora. Esposa de Set e mãe de Sovek, é
muitas vezes comparada à Minerva e em vários textos consta que seu totem também
é a Coruja. No Egito Antigo o animal era também representado nos hieróglifos
representando a morte (talvez por associação à Deusa Neith).
No Candomblé temos as Iyá-Mi, ou
Iyá-Mi Ósorongá, que são traduzidos como “Minhas mães”. São divindades
fortíssimas do Candomblé e representam o poder feminino, principalmente o poder
gerador. São muito respeitadas nesta tradição, muitas vezes temidas.

“As iyá-Mi tornaram-se conhecidas
como as senhoras dos
pássaros e a sua fama de grandes feiticeiras associou-as à
escuridão da noite; por isso também são chamadas Eleyé, e as corujas são os
seus principais símbolos.” MANUELA (2008).
Na bíblia, mais precisamente em
Salmos 102:6, Davi diz “Sou semelhante ao pelicano no deserto; sou como um
mocho nas solidões. Mocho (coruja) nas solidões representa a solidão noturna
atribuída à coruja por viver a noite.
Não diferente dos demais
significados, o xamanismo vê a coruja como totem e seu significado como sendo
sabedoria, discernimento, dom de clarividência, experiência, cura e capacidade
de projetar-se astralmente.
No próximo texto vamos falar um pouco mais sobre a Coruja nas diversas culturas e faremos as considerações finais. Não percam!
Excelente discrição e explanação. Tive um contato muito importante com uma coruja, justamente, no momento de uma reflexão. Esta experiência me fez resgatar o conceito de sincronicidade de Jung, a qual, grosso modo, diz, de fato, que nossos pensamentos e ações externas, acontecem de forma simultânea de acordo com o que está na energia circulante da psique. Um abraço.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Paulo.
ExcluirPaz e luz!